O TEMPO não para?
- Leonardo Lacerda
- 18 de dez. de 2018
- 6 min de leitura
A impressão que se tem quando se pensa a respeito do tempo é que este traz a sensação de movimento, de transitoriedade. Trata-se de um evento psicológico particularmente humano, pois nós, seres pensantes, assimilamos e construímos nossa realidade por meio dos sentidos e da memória. Assim, vemos que o sol raiou e anoiteceu, que o barulho é maior em determinados momentos, que está mais quente ou frio; e a partir desses registros criamos significados.

Antigamente, na ausência do relógio artificial, a humanidade utilizou várias formas para medir a passagem do tempo: em razão de acontecimentos (ritos de passagem, momentos significativos na vida, etc), pelo período necessário para cozer um alimento ou por fenômenos naturais. Nesse último é possível citar o ciclo solar e lunar, a rotação e a translação da Terra, fatos que possibilitaram demarcar inúmeras maneiras de perceber a passagem do tempo.
Por acaso você já parou para pensar que:
A ROTAÇÃO DA TERRA NOS POSSIBILITOU RECONHECER O INTERVALO DE UM DIA?
QUE AS FASES DA LUA (NOVA, CRESCENTE, CHEIA E MINGUANTE) NOS DISPONIBILIZOU UMA FORMA DE MEDIR A SEMANA (APROXIMADAMENTE SETE DIAS)?
QUE O MÊS FOI CRIADO A PARTIR DA LUNAÇÃO, OU SEJA, CONTAGEM DOS DIAS A PARTIR DE UMA DETERMINADA FASE LUNAR ATÉ CHEGAR A ESSA MESMA FASE (OBSERVE EM SEU CALENDÁRIO, CASO APRESENTE AS FASES DA LUA)?

E QUE A TRANSLAÇÃO DA TERRA NOS PERMITIU CRIAR O CONCEITO DE ANO A PARTIR DAS ESTAÇÕES?
Mesmo estando a maioria da população mundial vivendo no meio urbano, cercada de tecnologia, a natureza ainda impera, em grande parte imperceptivelmente sobre nós.
Quanto mais próximo à natureza mais moldamos nossa percepção sobre o tempo de forma CÍCLICA (repetitiva e biológica). Um urso, por exemplo, por instinto precisará se alimentar, hibernar, acordar e voltar a se alimentar e assim sucessivamente. Uma árvore irá brotar, florescer, crescer, semear e caducar.

Civilizações antigas, como os Maias, faziam seus cálculos de forma cíclica. Tanto que no ano de 2012 houve uma comoção mundial em relação ao calendário maia, que dizia que o ciclo da vida iria terminar em dezembro daquele ano.
Outra maneira de se entender o tempo é sob a percepção árabe: A PARTIR DE DENTRO. Nesse sistema, as pessoas se encontram no tempo presente, vivendo apenas um instante de cada vez. Assim, o que passou, passou, e o que virá se apresentará no momento certo. Forma diferente de observar o tempo dos ocidentais.

Deste lado do mundo se tem o costume de analisar a passagem do tempo de forma linear, não repetitiva, uma linha que se estende da esquerda (passado) para a direita (futuro), da mesma forma como lemos. Essa maneira de encarar o tempo é chamada de ATRAVESSADO, percepção mais afastada do momento presente, dando importância aos fatos passados e criando muitas expectativas quanto ao futuro.

QUAL TEMPO VOCÊ TEM VIVIDO? POR QUÊ? ESSA PERCEPÇÃO DO TEMPO TEM TE AJUDADO OU ATRAPALHADO A VIVER COM MAIS QUALIDADE?
A maneira como se percebe o tempo molda a forma como se vive a vida. Por conta disso, o tempo é mais que uma ferramenta de guiamento para a vida das pessoas. O tempo possui variadas representações simbólicas construídas histórica e socialmente para inúmeras finalidades: a) forma de organização da vida; b) processo de aprendizagem; c) maneira como se disciplina e coage um grupo de pessoas, etc.
Inserido nesse universo de disciplina e coerção está o tempo dito capitalista, ao qual se vinculou a noção de mercadoria, ou seja, paga-se os trabalhadores pelo seu tempo despendido no labor. Surge, assim, a percepção de que o tempo não passa, e sim se gasta, se perde, pois o ditado da vez é “tempo é dinheiro”.
Mas não apenas o tempo de trabalho foi subjugado a essa filosofia. Era preciso moldar também o tempo fora do trabalho, direcionando a classe trabalhadora a realizar atividades que a preparasse para o retorno mais descansado e mais produtivo ao trabalho. Dessa forma, o tempo chamado de “livre” pode, na verdade, não ter a característica de libertador. Pode ter sido manipulado para fortalecer ainda mais o tempo do labor. Por isso que esse tempo era regulado, fragmentado e bem cronometrado, tudo para ter controle sobre o mesmo: fins de semana, férias, feriados, momentos após o expediente de trabalho... Essas são as ideias que temos sobre tempo livre. Aquilo que foge a esse rigor é entendido como tempo ocioso, considerado desregrado e improdutivo, aproveitado por vagabundos e mendigos (os proscritos).
COMO VOCÊ ESTÁ INSERIDO NESSE SISTEMA? SENTE AQUELA “PULGA ATRÁS DA ORELHA” QUANDO SE VISLUMBRA FAZENDO NADA? ESTÁ SATISFEITO COM ISSO?
Ajudando a estruturar esse tipo de visão sobre o tempo (mecânico) vem a tecnologia, que muitas vezes cria um padrão de percepção do tempo (com ajuda do relógio), gera uma “economia” de tempo (com o avanço dos meios de transporte e da Internet), programa o tempo (através de agendas eletrônicas) e estoca o tempo (com pen drives e caixa de mensagens do celular).
Ainda assim, existem transgressões a esse modo de vida. Exemplos podem ser retirados de comunidades indígenas, dos hippies e do Movimento Nadista (ou simplesmente Nadismo), cuja base ideológica é aproveitar a vida sem fazer nada.
Cada dia que se passa novas ideias sobre o tempo surgem, visando quebrar esse padrão estabelecido e/ou lidar melhor com o mesmo. Uma delas é a Lei de Pareto ou Princípio 80-20, que afirma que 80% das consequências ou resultados na vida (pessoal, grupal, empresarial) advêm de apenas 20% das causas ou ações. Colocando um exemplo simples, caso alguém receba R$10.000 mensais, cerca de R$8.000 estariam condicionados ao atendimento de um grupo pequeno de clientes (20%) ou fruto da comercialização de uma gama limitada de produtos.
COMO VOCÊ PODERIA APLICAR A LEI DE PARETO NO SEU TEMPO?
Christian Barbosa, autor do livro “A Tríade do Tempo”, apresenta a sequência de perguntas abaixo para saber se determinada atividade que você faz ou tem de fazer se encaixa ou não nos 20% de ações que geram resultados positivos. Assim, para cada pergunta é preciso dar um valor, entre zero (não há resultado) e 10 (resultado altamente importante):
ESSA ATIVIDADE TERÁ ALGUM IMPACTO SOBRE OS RESULTADOS PARA A MINHA VIDA E/OU EMPRESA?
ESSA ATIVIDADE É REALMENTE INDELEGÁVEL, SIGILOSA E NINGUÉM MAIS PODERÁ EXECUTÁ-LA?
SE ESSA ATIVIDADE FOSSE ÚNICA NO MEU DIA, EU ESTARIA FELIZ? É ALGO QUE GOSTO DE FAZER E QUE ATIVA MEUS TALENTOS?
Depois de analisar as perguntas acima está na hora de somar o resultado e identificar o grau da atividade abaixo:
De 0 – 4: atividade deve com toda certeza ser cancelada, adiada, delegada ou negociada com os superiores ou colegas, pois o resultado dela será nulo para seu dia.
De 5 – 7: atividade deve ser revista, delegada a alguém ou tem prioridade inferior no seu dia. Seu resultado não é impactante para ter sua atenção total.
De 8 – 10: atividade que deve ser realmente executada, pois trará benefícios e impacto para as coisas mais importantes. Evite delegá-la e tenha atenção total no momento em que for executá-la.
Finalizando este texto, é relevante acrescentar duas outras ideias sobre o tempo. E a primeira delas é extraída da filosofia de Nietzsche, e que pode ser parcialmente entendida no livro (ou no filme) “Quando Nietzsche Chorou”.
Para o citado filósofo, o tempo é algo infinito (contínuo). Já o espaço é algo finito (limitado). Assim, para que essa equação funcione é preciso que existam vários espaços, mas sendo este limitado, não há como acompanhar o tempo. A não ser que o espaço se repita infinitamente, ou seja, que o que vivemos como ser humano (matéria, espaço) se reproduza constantemente, uma vida após a outra. Nesse sentido, tudo o que você está fazendo nesta vida se repetirá em suas outras vidas, infinitamente.
COMO SE SENTE EM RELAÇÃO A ISSO? POR ACASO NÃO GOSTOU OU GOSTA DE COMO TEM VIVIDO SUA VIDA? IMAGINE-SE ENTÃO REPETINDO ESSE COMPORTAMENTO E EXPERIÊNCIA PELO RESTO DE SUA VIDA E POR TODAS AS DEMAIS VIDAS, ISSO SERIA MOTIVO SUFICIENTE PARA VOCÊ MUDAR?
Para os gregos da antiguidade existiam duas formas de entender o tempo. Uma era pela palavra chronos, cujo significado envolve o tempo cronológico, sequencial, que pode ser medido, algo semelhante ao que ocorre na percepção linear. A outra está relacionada com o termo kairós, algo que significa “o momento certo” ou “o momento oportuno”, e se caracteriza por uma ocasião indeterminada no tempo em que algo especial acontece. Ideia que está mais relacionada ao tempo a partir de dentro, ou ao tempo cíclico, priorizando momentos significativos e/ou o presente.
ENTÃO, COMO VOCÊ PREFERE VIVER/USUFRUIR SEU PRESENTE?
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